Antonio Rivero Machina
Universidad de Extremadura
O alferes Jacinto Cordeiro: identidade literária e compromisso nacional
Nesta comunicação pretende-se focar
a figura do comediógrafo lisboeta Jacinto Cordeiro atendendo à sua duplicidade
de escritor português comprometido com a identidade nacional do seu país, por um lado, e, por outro, de célebre cultor da «comedia nueva», à maneira de Lope, em castelhano.
Entendido assim, Cordeiro representa o paradigma da relação que, no século
XVII, a maior parte dos literatos lusos mantinha com a Coroa espanhola e com a
língua castelhana, relação que no caso da literatura dramática se mantém muito
depois da Restauração dos Bragança. O trabalho proposto revisitará o corpus das comédias de Jacinto Cordeiro
– Amar por fuerza de Estrella y Portugués en Hungría, a Primera parte de Duarte
Pacheco e a Segunda parte de Duarte Pacheco ou Los doce de Inglaterra, para
além da sua primeira comédia La entrada del Rey en Portugal – assim como outros
textos poéticos que publicou – fundamentalmente o seu Elogio de poetas
lusitanos al Fénix de España Lope de Vega en su Laurel de Apolo – nos quais o
tema português é constante. A análise do seu tratamento e da sua importância no
imaginário deste autor oferece um olhar revelador sobre como os dramaturgos
portugueses lograram compatibilizar um exercício teatral natural, que incluía o
uso de um idioma estrangeiro como o castelhano, com a sua identidade nacional e
até mesmo a reivindicação patriótica antes e depois da sublevação de 1640.
Carlos Junior Gontijo Rosa
Universidade de São Paulo
O negro mais bem mandado
Para uma primeira aproximação ao
recém-disponibilizado acervo de textos teatrais portugueses do século XVII pelo
CET-FLUL, optamos por tratar do entremez O negro mais bem mandado, de Manuel
Coelho Rebelo, através da óptica da comicidade nele observada. Buscamos apontar
os efeitos e motivos cômicos presentes no texto dramático, partindo de uma leitura
que o contextualize histórica e cenicamente. A partir da situação cômica e da
construção do caráter do «Preto», faremos uma rápida comparação com textos seus
coetâneos, dentre eles a novela exemplar «El celoso estremeño», de Miguel de
Cervantes, que conta com uma personagem negra de construção característica
semelhante.
Daniel Magalhães Porto
Saraiva
Université Paris-IV
Sorbonne
O labirinto das
fidelidades: o papel do teatro na campanha pública da Restauração
O confronto luso-castelhano
usualmente intitulado «Guerra da Restauração» foi acompanhado por uma acirrada
batalha de opinião. As atividades de propaganda e contra-propaganda deram o tom
de uma luta em que se combinavam os recursos da violência e da persuasão.
Para neutralizar as iniciativas inimigas
e angariar a adesão da população, o governo brigantino engendrou uma vasta
campanha pública, responsável pelo surgimento dos dois primeiros periódicos
portugueses e pela publicação de centenas de relações de sucessos. Longe de
equivaler à projeção da ideologia de um Estado absoluto sobre súditos passivos,
a dita campanha enfrentou diversos obstáculos, tendo que se reformular no curso
do tempo para responder às dificuldades que se interpuseram à sua consecução.
A presente comunicação se propõe
a analisar a incorporação do teatro na propaganda brigantina como parte da
estratégia adotada para contornar a crescente insatisfação demonstrada por
importantes setores sociais face à multiplicação destes textos noticiosos que,
segundo Luís Marinho de Azevedo, inspiravam mais riso que respeito. Enquanto
volumosas crônicas destinadas a um público seleto substituíam as ágeis relações
e gazetas na tarefa de narrar a guerra, as peças teatrais pareciam assumir a
função de falar às camadas mais amplas da população.
Pelo exame da comédia La
desgracia más felice, sublinhar-se-á, enfim, o uso do teatro como forma de «reformar
e moderar os costumes dos homens» (MARAVALL, 1990), sugerindo-lhes como reagir
aos graves dilemas que afligiam uma sociedade dividida entre fidelidades
concorrentes.
Filipa Freitas
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa
Variações no tempo e no texto: celebrações da vida de Cristo no contexto do teatro jesuítico seiscentista
Encontra-se na Biblioteca Pública
de Évora um manuscrito, datável do séc. XVII, que apresenta dois textos
dramáticos de tema religioso, provavelmente inscritos na actividade pedagógica
dos jesuítas. A grande percentagem de texto comum, que revela abundantes
semelhanças formais, não impede, todavia, diferenças textuais que parecem
resultar das festividades para que foram compostos ou adaptados. O cotejo que
se pretende levar a cabo terá em conta as características extratextuais de cada
um e a progressiva distância que entre eles se instala, da simples variante
textual à (re)escrita. A análise esclarecerá as circunstâncias da sua
composição e representação, no contexto do ensino jesuíta.
Flavia Maria Corradin
Universidade de São Paulo
A Restauração portuguesa vista sob o olhar teatral do Seiscentos e do
Oitocentos
A presente comunicação intenta
examinar a Comédia Famosa de La Feliz Restauración de Portugal y Muerte del
Secretario Miguel De Vasconcelos, de Manuel de Almeida Pinto (1649), inscrita
no Teatro de Autores Portugueses do século XVII, edição preparada pelo Centro
de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa, confrontando-a com a «comédia
histórica» D. Filipa de Vilhena, de Almeida Garrett, representada no Teatro do
Salitre em 1840, mas publicada apenas em 1846. Ambos os textos trazem para o palco
os momentos imediatamente anteriores ao 1º de Dezembro de 1640, data da
Restauração política portuguesa frente ao domínio espanhol. As duas peças
encenam ainda, paralelamente aos acontecimentos históricos, casos de amor
fictícios(?), que contribuem para revelar as características das personagens e
meandros do acontecimento histórico enfocado. Interessante notar também a
participação do gracioso Bitonto, na peça de Almeida Pinto, bem como do criado
Custódio e do ambíguo Barnabé Fulgêncio na comédia oitocentista, que concorrem
para elucidar o entrecho. Pretendemos, assim, depreender a visão apresentada
pelas duas peças, uma vez que o primeiro texto se circunscreve a um período
bastante próximo ao fato histórico e o outro apresenta a marca do Oitocentos pela
pena do liberal Almeida Garrett. O modo como os dois autores trazem para a cena
o acontecimento histórico, seus antecedentes, suas personagens (históricas e
teatrais) permitir-nos-ão revelar aspectos importantes de uma vertente teatral
que continua a mostrar-se importante na dramaturgia portuguesa: a história da
nação.
Guillermo Gómez Sánchez-Ferrer
Universidad Complutense de Madrid
O teatro de autores portugueses nos prelos castelhanos
No âmbito do encontro dedicado ao
Teatro de autores portugueses do século XVII, propõe-se o estudo da presença de
obras de dramaturgos portugueses na imprensa espanhola do Barroco,
complementado, assim, uma primeira aproximação levada a cabo noutro lugar sobre
a presença do teatro castelhano nos prelos portugueses desse período.
Com este objectivo, seguiremos os
passos de investigadores como Moll, Chartier, Cruickshank, Vega García-Luengos
ou D’Artois para analisar as edições onde aparecem textos de vários dramaturgos
de origem portuguesa. Posteriormente, procuraremos comprovar se a sua inclusão
nas coleções castelhano-aragonesas responde (como se demonstrou a propóstio das partes de
comédias) à coerência interna de um produto unitário, dirigido a um leitor
específico, ou se se trata de mera coincidência editorial.
Por fim, prestaremos atenção à
recepção (impressa e leitora)
da produção em castelhano dos escritores lusos no outro lado da fronteira. Entre outras obras
estudaremos a publicação de peças tão sigificativas como as comédias de Jacinto
Cordeiro na coleção de Diferentes autores, as obras de Manuel Freire de Andrade dadas à estampa em Madrid e Zaragoça ou as peças de Matos Fragoso inseridas nas
recompilações de comédias e entremezes da segunda metade do século.
Pretende-se, assim, determinar, em última instância, se a difusão impressa do teatro português em
Castela e Aragão corresponde a uma estratégia editorial atenta às formas
dramátias provenientes de Portugal (paralela à atenção que a imprensa
portuguesa votou ao teatro castelhano) ou se apenas algumas obras específicas conseguem passar a fronteira (geográfica e cultural) de um reino para o
outro.
Isabel Boavida
Addis Ababa University
A tragicomédia El Mártir de Etiopía:
uma encomenda cumprida
A tragicomédia El mártir de
Etiopía foi redigida, possivelmente na década de 30 do século XVII, por Miguel
Botelho de Carvalho, um poeta bilingue português que, apesar de ter dado à
estampa quatro livros, é hoje uma figura praticamente ignorada no panorama das
letras portuguesas. A obra enquadra-se no modelo dramatúrgico fixado por Lope de
Vega no tratado em verso El Arte nuevo de hacer comedias, explorando, a par da
intriga amorosa indispensável em que se contrastam dois modos de amar, um
episódio histórico ocorrido em 1541-43, a expedição militar à Etiópia liderada
por D. Cristóvão da Gama. A encenação do martírio de D. Cristóvão às mãos do
imã Ahmad ibn Ibrahim al-Ghazi (transformado em general turco) inscreveu-se no
processo de construção da imagem da linhagem da Casa da Vidigueira, iniciado
por D. Francisco da Gama e continuado pelo filho, D. Vasco Luís da Gama.
Aproveitou igualmente aos propósitos da Companhia de Jesus, expulsa da Etiópia
em 1633 e empenhada em provocar o interesse do poder político numa acção
directa na Etiópia que restaurasse ali a presença missionária. A peça serviu,
assim, duas causas que agitavam a mesma bandeira cujo emblema era o martírio do
Gama. A representação pela Companhia de Antonio de Prado e posterior publicação
num volume que incluía as Rimas Várias do poeta, são peças do xadrez em que se
jogavam as relações entre a literatura e o poder.
Esta comunicação almeja apresentar esta peça Seiscentista quase ignorada no
contexto da sua produção e representação, e discutir possibilidade e modalidade
de edição.
Jamyle Rocha Ferreira Souza
PPgLitA/IFBAIANO /Universidade Federal da
Baía
Auto del Nacimiento de Cristo...
de Francisco Lobo: permanência de uma matriz cênica
O Natal, importante celebração no
mundo cristão, junto com a Páscoa, é encenado frequentemente nas artes cristãs
ocidentais. No período quinhentista, muitos elementos da matriz cênica do
nascimento de Cristo eram utilizados como estratégia dramática nas diversas
representações da dramaturgia ibérica, frequentemente encenadas nos salões
palacianos, inclusive sem o fundo típico religioso. Trata-se sobretudo de uma
técnica intimamente relacionada ao esquema tradicional do programa litúrgico
natalino: o anúncio do anjo aos pastores; a ida dos pastores ao presépio; a
adoração; e o oferecimento de presentes. Parece-nos que a cena dramática do
século XVII na arte de Francisco Rodrigues Lobo, notadamente o Auto del
Nacimiento de Cristo y edicto del emperador Augusto César, serve de elo de
ligação entre a dramaturgia quinhentista e a dramaturgia seiscentista. Nota-se
no desenvolvimento das personagens, principalmente as pastoris, os
desdobramentos dramáticos que apontam para a cena do presépio. É nesse sentido
que propomo-nos, neste trabalho, tecer algumas considerações sobre a tradição
natalina e suas estratégias dramáticas na peça supracitada de Francisco
Rodrigues Lobo.
José A. Rodríguez Garrido
Pontificia Universidad Católica del Perú
Embaixada espanhola e teatro em Portugal: os festejos do Marquês de
Castell dos Rius em homenagem ao príncipe D. João (1692-1695)
Em 1690, vinte e dois anos depois
de Espanha ter reconhecido a independência portuguesa, Carlos II designou o
Marquês de Castell dos Rius como enviado extraordinário em Lisboa e, seis anos
mais tarde, nomeou-o embaixador. Apesar do objectivo explícito da sua primeira
missão ser apenas o de congratular os reis de Portugal pelo nascimento do
príncipe (o futuro D. João V), durante os anos da sua residência em Lisboa o
Marquês desenvolveu várias actividades destinadas a consolidar a aliança entre
os dois reinos. Para isso, entre 1692 e 1695, organizou uma série de festejos
teatrais no aniversário do príncipe. Deste conjunto chegaram-nos cinco loas,
uma comédia, uma mojiganga e um fragmento dramático. Várias destas loas foram
escritas pelo licenciado Pedro José de la Plana, mas a comédia saiu da pena do
próprio Marquês. Este corpus mostra
explicitamente o uso do teatro com fins políticos. Por um lado, revela de modo
claro o reconhecimento da sucessão portuguesa dos Bragança por parte da Coroa
espanhola; mas demonstra ainda o objectivo de consolidar alianças políticas na
administração e na defesa dos territórios que ambas as coroas possuiam no norte
de África. O teatro organizado por Castell dos Rius mostra, deste modo, como o
modelo do teatro de corte espanhol serviu, no contexto português, como ferramenta
para redefinir os vínculos entre as duas Coroas nos finais do século XVII.
José Javier Rodríguez
Rodríguez
Universidad del País Vasco
Rebelo reescrito: de La burla más
engrazada a A peça mais engraçada
A investigação desenvolvida
durante o período de execução do projecto Teatro
de autores portugueses do séc. XVII: Uma biblioteca digital permitiu, entre
outras coisas, exumar vários tomos de entremezes manuscritos que reúnem textos
dos séculos XVII e XVIII e que demonstram a popularidade deste género teatral em
Portugal durante estas duas centúrias. Estes volumes, e outros que no futuro se
possam encontrar, contêm um tesouro de documentos para o estudo e a
caracterização das especificidades deste género dramático no contexto português.
Entre eles, terá que se contar com o êxito colhido pelo autor da Musa entretenida de varios entremeses, Manuel
Coelho Rebelo, editada em 1658 e reeditada em 1695, colectânea que encontra vários
dos seus títulos copiados nos referidos códices.
Concretamente, o volume do
Instituto Carolina Michaëlis de Vasconcelos da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra contém dois textos que procedem da Musa entretenida. Por um lado, no nº 45 reproduz-se o entremez
castelhano Los valientes más flacos. Por
outro, no nº 4 encontra-se transcrita a obra Entremez da peça mais engraçada, versão em português do entremez
castelhano La burla más engrazada. A
passagem do castelhano para o português é por si só um facto notável, pois
confirma o êxito das obras de Rebelo e a tentativa de assegurar a sua permanência
no repertório teatral autóctone. Por outra parte, a comparação entre a versão
portuguesa e o original castelhano revela um trabalho rigoroso, hábil e
coerente, inspirado por critérios estéticos e ideológicos muito relevantes para
o estudo da evolução do entremez em Portugal.
José Pedro Sousa
Centro de Estudos de Teatro
Ler novamente o teatro de autores portugueses do século XVII
Para além da intriga
representada, os textos de teatro encerram outro tipo de memória que, sem
prejuízo para a história da literatura dramática, possibilita o
(re)conhecimento da história do espectáculo. São referências mais ou menos
explícitas aos modos de fazer o teatro, aos seus cânones e à(s) sua(s)
prática(s), a lugares e a pessoas, que tanto podem remeter para um conjunto de
preceitos de âmbito geral como para as circunstâncias concretas da execução
material de uma determinada obra.
Propõe-se uma nova leitura dos
textos de teatro focada no valor documental destas obras e possibilitada pelo
recurso às ferramentas de pesquisa disponíveis na base de dados textual Teatro
de autores portugueses do século XVII. Visa-se recuperar, assim, a memória
do teatro dispersa pelo corpus da dramaturgia portuguesa seiscentista.
Através de uma análise macro-textual deste conjunto de textos e de pesquisa
temática, pretende-se identificar e contextualizar a informação contida nestas
peças pertinente para o estudo da história do teatro em Portugal no século
XVII.
Manuel Calderón Calderón
Centro de Estudos de Teatro
Anjos e leviatãs: o teatro político de Antonio Enríquez Gómez
As comédias políticas de Antonio
Enríquez Gómez reflectem a crise de autoridades em matéria política à época.
Apesar da relação patriarcal entre o rei e o seus súbditos se fundar em
pressupostos iusnaturalistas, El maestro
de Alejandro sentencia que «el amor no hace monarquía». E se as personagens
destas comédias oscilam entre o racionalisto aristotélico-tomista e a razão de
estado maquiavélico-hobbesiana, Don Álvaro, em El rey más perfecto, opõe a força, o risco e a vontade do «povo» à «razão» divina da lei. No contexto da crise da monarquia hispânica, as críticas de
Enríquez Gómez não se limitam aos representantes e funcionários do Estado,
abarcando também a Igreja e o Terceiro Estado.
María Rosa Álvarez Sellers
Universitat de València
A raia quebrada: a
Restauração portuguesa em ambos os lados da fronteira
A história portuguesa foi tema de
muitas peças de teatro espanholas do século XVII e deste acervo destacou-se o
papel da Casa de Bragança tratada sob pontos de vista divergentes de acordo com
o momento cronológico de produção da obra, como tentaremos comprovar com o
estudo de El Duque de Viseo
(1608-1609), de Lope de Vega, e La tragedia
del Duque de Verganza (1641), de Cubillo de Aragón, já que os acontecimentos
em torno do reinado de D. João II se converteram em metáfora de um assunto de
importância vital: a chamada Restauração portuguesa, que pôs fim ao período da
Monarquia Dual (1580-1640). Também os dramaturgos portugueses se ocuparam de tão
relevante questão, escrevendo inclusivamente em espanhol «por que Castela saiba
ler em língua sua glórias nossas», como disse Manuel Araújo de Castro. O nosso
objectivo é analisar a percepção de cada uma das nacionalidades sobre o fiasco
da União Ibérica, tão ansiada por Castela como recusada por Portugal, através
da análise de duas obras contemporâneas deste acontecimento: La mayor hazaña de Portugal (Lisboa,
1645), de Manuel Araújo de Castro, e Feliz restauración de Portugal y muerte del
Secretario Miguel de Vasconcelos (Lisboa, 1649), de Manuel de Almeida Pinto.
Rogério Miguel Puga
CETAPS, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de
Lisboa
Intertextualidade(s) em Torno de um Mito Nacional Literário em Los Doze
de Inglaterra (1634): A Recuperação de uma Temática Anglo-Portuguesa por
Jacinto Cordeiro
Em 1634, Jacinto Cordeiro
publica, na Segunda Parte de las Comedias
del Alférez Jacinto Cordero, a peça Los
Doze de Inglaterra, que poderá ser lida como um projecto nacionalista e ao
longo do qual é recuperado humoristicamente o mito nacional literário dos Doze
de Inglaterra, grupo de cavaleiros lusos no qual se destaca Álvaro
Gonçalves Coutinho, o Magriço. A nossa comunicação estuda, através de uma
abordagem imagológica, os núcleos temáticos, os auto- e hetero-estereótipos,
bem como o diálogo intertextual da peça com obras anteriores que representam o
episódio cavaleiresco de cariz anglo-português para analisar de que forma e por
que razões essa tradição é recuperada pelo dramaturgo pouco antes da
Restauração.
Tatiana Jordá Fabra
Universitat de València
Teatro de ardis e fingimentos: a função do engano desde o teatro
vicentino ao entremez do século XVII
O engano é utilizado de forma
constante e com diferentes finalidades nas obras de Gil Vicente, demonstrando o
engenho do autor em peças tão distintas como a Tragicomédia de Dom Duardos, a Floresta
d’Enganos ou a Farsa da Índia,
entre outras. Neste trabalho vamos averiguar de que forma este recurso evolui
na prática cénica portuguesa posterior através do estudo de uma selecção de
entremezes do século XVII pertencentes ao corpus do dramaturgo Manuel Coelho
Rebelo.
Teresa Araújo
Universidade Nova de Lisboa
Procedimentos engenhosos: o dramaturgo dramatizado
A hipótese de Pedro Salgado
corresponder à referência de certos elementos dramáticos dos seus Diálogo
gracioso (1645) e Mayor gloria de Portugal (s.d.) é suscitada, desde logo,
pelas alusões de duas figuras das peças ao nome do autor e à sua destreza nas
letras. Mas também é favorecida por outros constituintes com conexões
extraliterárias políticas e académicas. O estudo agora apresentado argumenta a
favor da conjectura, aprofundando criticamente estes aspectos e alegando que o
provável artifício de interseção do real e da fantasia deriva da forte «teatralización
de la vida [que] se apodera del hombre [barroco]» e consequentemente das suas
criações dramáticas (Díez Borque, 1988).